Na última quarta-feira (29/03) foi realizado o Prêmio CBTIJ de teatro para Crianças. Uma noite de falas importantes para todos os que estavam presente.
“A meu ver, o teatro, como nenhuma outra forma de arte, pode contribuir para o crescimento pessoal e o alargamento do olhar de qualquer ser humano em formação. Afirmaria mesmo que o hábito de ir ao teatro desde cedo ajuda qualquer criança a crescer melhor. E - por que não? - mais rápido”. (Maria Arlete Mendes Gonçalves)
A coragem do Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude (CBTIJ) nos invade de orgulho por ainda premiar os fazedores de teatro infantil. Mesmo sem investimentos, mantém-se de pé, e seguindo nessa estrada. No Brasil já não temos outras premiações no setor, que é tão importante.
Notamos a dificuldade das produções para levar os espectadores ao teatro (adulto), e isso é a consequência da falta de investimento no teatro infantil. E, se não mudarmos essa concepção, fato, que ficará ainda pior.
O CBTIJ abriu a noite falando sobre as dificuldades em seguir, mas não olhou somente para si, deu espaço para os alunos da escola de teatro mais antiga da América do Sul, a Escola de Teatro Martins Pena, que no momento encontra-se desmoronando, com as atividades interrompidas, por perigo de desabamento. Muito bonito quando as alunos perguntaram quantos atores presentes eram frutos da escola, e ao ficarem de pé, lá estava o artista Cridemar Aquino, ganhador do Prêmio Shell deste ano. É importante que os artistas se unam em defesa dessa escola, para que o socorro chegue quanto antes. Trata-se de uma instituição educacional, e isso já basta para serem tomadas decisões importantes pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro.
A instituição SESC foi mencionada algumas vezes pelo CBTIJ, e também por muitos artistas, por seus investimentos no setor cultural infantil.
A premiação não me causou espanto. A Cia Solas de Vento, de São Paulo, que esteve durante uma enorme temporada no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), com a trilogia das histórias de Julio Verne e o Coletivo Eranos - Círculo de Arte, de Santa Catarina, com o espetáculo Caixa Ninho, que esteve no Sesc Tijuca, apresentando uma obra para primeira infância, levaram a maioria dos prêmios. Seus integrantes mal sentavam e já eram convidados a receber outras premiações. Somente quem assistiu aos espetáculos entendeu o que esses artistas fizeram no palco. Inesquecível e muito merecido!
Uma das premiações foi para a Cia Cerne, que defende o teatro político para crianças. A companhia está realmente atenta para o estilo, o que entendo ser de máxima importância para o setor, já que o teatro, através do lúdico, educa. Quem assistiu ao espetáculo Era uma Vez um Tirano aprovou sua premiação. A obra, além de colorida, evidencia o bem e o mal, tudo com sutileza.
A premiação também foi para o artista Junior Dantas, integrante de um dos primeiros espetáculos infantis presenciais. O Pequeno Herói Preto é uma graça: também levou o prêmio por seu cenário. Essa peça fala sobre uma criança negra que usa a realidade da vida a seu favor, o que o tornou um verdadeiro herói, apaixonante.
O diretor Daniel Herz levou algumas premiações por seus espetáculos Iolanta - A Princesa de Vidro e Corcunda – dueto para ator e catedral gótica. Quem assistiu às obras, sabe que a elegância delas é uma de suas marcas.
Um dos discursos mais belos da noite foi do artista Ricardo Rocha, que ganhou o prêmio de melhor figurino pelo espetáculo Bordador de Mundos. Em sua narrativa, falou sobre sua infância ao lado da mãe, que é costureira, e como ele, aprendeu/aprende com ela. O reconhecimento materno desse profissional me tomou de emoção, assim como o do dramaturgo Rafael Ribeiro. O Rafuda, como é conhecido, levou o prêmio por seu texto Tá com Medo de que? O dramaturgo tem excelente escrita e essas já estiveram em espaços importantes do teatro no Rio de Janeiro, por sua competência textual. Mas o que encanta nele é a sua forma de ver a vida, de ver o outro. Em sua narrativa, ao ganhar a estatueta, colorida, falou sobre seu dia a dia, suas idas ao supermercado e até o nome do trabalhador que o atende em um dos setores, tudo com muita graça e espontaneidade. Penso ser isso que o engradece tanto. Rafuda entende o espetáculo da vida e transborda sua vivência ao levá-la para o papel.
O melhor espetáculo ficou para Bagunça. A peça estreou no Sesc Tijuca e, quem assistiu, sabe que eles conseguiram ensandecer os pequenos. O projeto infantil partiu de artistas que trabalham em hospitais, e fico a questionar: como foi possível? Somente quem conhece a realidade dolorida destes espaços de saúde entende como tudo é tão sofrido. Mesmo assim, eles nos fizeram sorrir!
Foram muitos premiados, não tem como mencionar cada um deles, mas parabenizamos a todos.
Houve algumas homenagens importantes. Um deles falou sobre a responsabilidade do teatro: “Lugar de criança é no teatro e não esfaqueando professores!"
É isso.